- Dia Nacional da Poesia: Comemorado no Brasil, homenageia o nascimento de Carlos Drummond de Andrade. Carlos Drummond de Andrade foi um dos maiores poetas modernistas brasileiros, nascido em Itabira, Minas Gerais, 31/10/ 1902. Sua obra, marcada pelo cotidiano, crítica social e temas existenciais, inclui poemas, crônicas e contos. Drummond também foi cronista, contista e tradutor, e publicou seu primeiro livro, “Alguma poesia”, em 1930. Ele faleceu no Rio de Janeiro em 1987
QUADRILHA
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili,
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.– Carlos Drummond de Andrade
NO MEIO DO CAMINHO
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.Carlos Drummond de Andrade
Para que serve a poesia ?
Na visão de um poeta, a poesia serve para expressar e transfigurar a realidade, sendo uma forma de conhecimento que transcende a lógica, usando a linguagem de maneira estética para revelar o mundo invisível, despertar sensações e dar forma a sentimentos e emoções profundas. Ela também funciona como uma ferramenta para provocar reflexão, inspirar, emocionar e conectar o mundo interior do poeta com o do leitor.
Pensar na utilidade das coisas é uma visão tipicamente burguesa de todos os recursos e influencia o pensamento contemporâneo: sempre precisamos estar medindo, quantificando e qualificando todas as coisas. Como se fosse proibido sentar e não fazer nada. Mas essa visão mesquinha não é capaz de “capitalizar” todas as coisas. Ao menos é assim que pensava o poeta curitibano Paulo Leminski: “querer que a poesia tenha um porquê, querer que a poesia esteja a serviço de alguma coisa é a mesma coisa que querer que o orgasmo tenha um porquê, que a amizade e o afeto tenham um porquê. A poesia faz parte daquelas coisas que não precisam de um porquê”. A poesia seria então um “inutensílio”.
Evocar é sentir. Sentir, mas só sentir não é poesia (Drummond). É preciso fazer as outras pessoas sentirem também. Uma poesia pode conter três visões diferentes sobre um mesmo assunto: (i) o sentimento que realmente é; (ii) o sentimento que o poeta escreve; e (iii) o sentimento que o leitor evoca. Como bem evoca, poeticamente, Fernando Pessoa no poema Autopsicografia:
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Diferente de uma receita de bolo, do manual de um eletrodoméstico, os textos literários, em especial da poesia, não possuem uma finalidade aparente. Como num lapso existencialista, cada um cria sua relação e finalidade da poesia. A poesia vira uma obra diferente dependendo de quem a consome.
De o Carteiro e o Poeta de Pablo Neruda
“A poesia não pertence a quem a escreve, mas àqueles precisam dela.”






 
															