“O verdadeiro perigo da inteligência artificial é a estupidez humana” (Laura G. de Rivera)

 [‘O verdadeiro perigo da inteligência artificial é a estupidez humana’ -Cristina J. Orgaz =>BBC News Brasil

É noite e você decide sair para jantar. É possível que seu parceiro não saiba o que você quer comer, mas a inteligência artificial sabe: à tarde, ela te viu assistindo a vídeos de tacos e tem certeza de que agora você não consegue parar de pensar neles.

“Se não tomarmos decisões, outros as tomarão por nós”, escreve a jornalista e escritora espanhola Laura G. de Rivera em seu livro Esclavos del algoritmo: Manual de resistencia en la era de la inteligencia artificial (Escravos do Algoritmo: Um Manual de Resistência na Era da Inteligência Artificial, em tradução livre), resultado de anos de pesquisa.

“Vivemos imersos em pensamentos, desejos e sentimentos impostos de fora porque, ao que parece, nós, humanos, somos bastante previsíveis. Basta aplicar a estatística às nossas ações passadas, e é como se alguém lesse nossa mente”, continua a escritora.

A precisão em prever nossas necessidades ou desejos é tão grande que Michal Kosinski, psicólogo e professor da Universidade Stanford (EUA), demonstrou em seus experimentos que um algoritmo bem treinado, com dados digitais suficientes, pode prever o que você quer ou do que você gosta mais do que a sua mãe.

Soa bem, em princípio, a ideia de que a inteligência artificial possa prever os interesses de uma pessoa com extrema precisão. Mas isso tem um preço, diz Laura de Rivera, e é um preço alto: “Perdemos a liberdade, perdemos a capacidade de sermos nós mesmos, perdemos a imaginação.”

 

“Trabalhamos de graça para o Instagram ao fazer o upload de nossas fotos, para que a rede social exista e fature milhões. É preciso estar consciente e aproveitar os benefícios das plataformas sem deixar que os riscos nos prejudiquem”, afirma.

“A informação é poder. E a corrida para se apropriar dela está desenfreada”, escreve a autora.

A solução, na opinião dela, é muito simples, está ao alcance de qualquer pessoa, é gratuita e não tem impacto ambiental. É simplesmente pensar. Em outras palavras, usar o cérebro. É uma capacidade humana que está em desuso, que se perdeu.

Sabemos com certeza que, por mais que se tente, um programa de software não é capaz de oferecer a menor dose de criatividade para inventar novas opções, isto é, opções que não se baseiem na estatística de dados passados.

Tampouco será capaz de fornecer soluções baseadas na empatia, para se colocar no lugar do outro, nem na solidariedade, para buscar a própria felicidade na felicidade dos outros.

Essas três qualidades são exclusivamente humanas por definição.

A BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) conversou com Rivera durante o Hay Festival, que acontece entre 6 a 9 de novembro na cidade peruana de Arequipa, evento que reúne 130 participantes de 15 países.

A cada momento em que não estamos trabalhando ou com outras pessoas, pegamos o celular e nos distraímos com a tela. Já não pensamos na sala de espera do médico nem quando nos entediamos em casa.

Esses espaços que antes serviam para pensar estão hoje completamente ocupados por uma distração constante. Pelo smartphone, recebemos um bombardeio de estímulos que nos impede de refletir.

Há outras coisas que se podem fazer, mas para mim esta é a mais básica e a mais fácil. Só o pensamento crítico pode defender a liberdade individual diante do controle algorítmico e da vontade de terceiros…

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cg43e1yegk2o

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